Vai banhar-se em discos de vinil
e amolecer os calcanhares
Vai ficar em silêncio
até lamber fotografias secas
Vai ferver todas as cartas
destilar anotações voláteis
Vai respirar os livros, vai
engolir as traças
Vai despir-se em lençóis mofados
escrever com as unhas
contar os ossos do pé
vinte e oito anos
Vai contorcer os ouvidos
afogar-se nas vértebras
os pulmões salivando
revirando saudades quentes
O tempo não para de corroer a garganta