Minha foto
cartógrafo de letras, sensações e pássaros

4.08.2012

TEXTO XXXVII : UM POEMA MUDO

Vai banhar-se em discos de vinil
e amolecer os calcanhares
Vai ficar em silêncio
até lamber fotografias secas

Vai ferver todas as cartas
destilar anotações voláteis
Vai respirar os livros, vai
engolir as traças

Vai despir-se em lençóis mofados
escrever com as unhas
contar os ossos do pé
vinte e oito anos

Vai contorcer os ouvidos
afogar-se nas vértebras
os pulmões salivando
revirando saudades quentes

O tempo não para de corroer a garganta