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cartógrafo de letras, sensações e pássaros

5.16.2016

TEXTO 133 : UM ESBOÇO DO RECESSO




a gente ainda não tem
cores ou formas suficientes
para definir melancolia e incompreensão
esse terrível fantasma ou essas dunas
forças inservíveis que se movimentam
na escuridão e nos contornos da ignomínia

como seu amante mais discreto e ciumento
eu também gostaria de rasgar as suas letras
mas daqui do convento da minha casa
(onde ainda o vento leva o sofrimento adiante)
eu tenho a terrível missão de esquadrinhar (ou esquartejar)
não a sua estratégia, mas a sua desgraçada carne

não levo adiante as conversas nem os pesadelos
aqui o que realmente importa são as palavras
com as quais dancemos, refazendo o tempo
a ordem e tudo o que for possível sublinhar
haverá sim, coisas mais interessantes a dizer



5.02.2016

TEXTO 132 : FAZER POEMA QUE É FÁCIL*




fazer poema
que é fácil
fala sério
quero ver
dente no
dente olho virado
quero ver
palavrório
desafiado
dar com a lingua
onde se veste
a carapuça
falar que é fácil
e a poesia toda
dura ruminando
eu tô com a cara
e a coragem
no bolso eu
visto a cobra
mostro o mal
faço pirueta
firula, firanga
fandango, candanga
faço chover carnaval
ruminêscencias
se precisar
faço também
o dito e o redito
o feito
e o mal-feito
te mal-digo
de umbigo
e é o jeito
pois  na
cantiga vou
ungindo
tudo quanto é
direito ,
se lhe mostro
o mal
é porque levo
cobra no peito
essa picada
é poema
e o antídoto
não é perfeito
faço que faço
mas vou fazendo
a esgueio
se tiver chumbo
 no mato
a gente põe
matoabaixo
pra ver achar
o arteiro
que resolveu
atirar
pra matar
poemeiro
rebentou com
tudo quanto
é pomar
de maçã, de figo
e limoeiro
mas o poemar
ta inteiro.

* com Pedro Marangoni