12.14.2013
TEXTO XCVI : NÓS, OS VIAJANTES
por não haver o mar por perto
descubro um marinheiro em mim
e transformo o barco dos meus pés
numa viagem sem rumo
outros viajantes sobem à bordo
e juntos deixamos a cidade
e sua crista de luzes diminutas para trás
nós inclusive deixamos pelo caminho
uma trilha com um rastro cheiroso
e então jogamos cartas e cantamos
canções que só se ouve no rádio
ninguém escreve em diários
ou coisa do tipo
somos turistas redescobrindo
um mapa das amizades, cartografando
as sensações de idas e vindas
viajantes do tempo em algum nível
tenho a impressão de que
a viagem não tem volta
somos todos marinheiros
não desejamos mais estar
dentro de nada, apenas contornando
a superfície inscrita da humanidade
TEXTO XCV : SEU OLHAR LÂNGUIDO ESPIA
do deserto aonde se entregam os lamentos
seu olhar languido espia, retraindo depois como cobra
ou como uma flor rasa que murcha pela tarde
percebo-te distante, de cima de um terraço
(um daqueles com um parapeito, já em ruínas)
atiro de cima um fragmento, um pedaço de uma
pergunta que não se importa com respostas
um buquê de palavras inócuas e frases imaculadas
mas você bem me quer, mal me quer
como a flor das suas palavras cálidas
TEXTO XCIV : NÃO QUE EU ME IMPORTE
não que eu me importe
com a métrica
ou com o grotesco
sexo das flores
os dias parecem
tentar imitar
as insignias
cravadas na carne
das tuas pernas
tem uns dias que
no meu varal um
livro insiste em
não ensinar nada
ao vento
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