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cartógrafo de letras, sensações e pássaros

11.30.2013

TEXTO XCIII : MINI CRITICA





eu . hei . de . ser . fe . liz . a . não . ser . que

pela frase gravitam os anseios do escritor
expressos na pontuação grotesca, mas caricatural
que se propõe envolver o leitor numa espiral de tensão onde se
desenrolará a trama, e que, apesar de não apresentar nenhum
personagem assinala a inexorável veia romantica do autor
              [corta para o fim]



TEXTO XCII : PEREMPTORIO




pe-remp-tó-rio
toda vez que leio
vou ao dicionário da
cabeça, a gente sai rindo
da palavra peremptório como
fica rindo da criança que faz xixi
na cama ainda dormindo sem saber
que a palavra esconde o perigo entre
as sílabas do som que é perene aquele que
mata e define o juízo das coisas acima da lei
quem riu da palavra peremptório ou fez xixi na cama
agora espreme os olhos olhando para trás no tempo que
a palavra nem era uma coisa perigosa a palavra volta a ser
pro-fí-cua toda palavra tem que ser profícua senão só serve para fazer
morrer.



TEXTO XCI : A GRAMATICA TODA ESCALDADA




a gramatica toda escaldada

como um instante de gato
a língua meio fugida
assustada com seus gestos

ninguém parou pra ouvir
a vontade do poeta

espera aí, quem é
que disse que eu tinha que
ser
alguma coisa
mesmo?




TEXTO XC : FORM-ATANDO





eu ia começar dizendo e como sempre me atr-
apalhando todo em pens-amento.
como se todo o tempo tivesse que estar que-
rendo dizer a coisa c-
erta dentro de uma lóg
ica morfológica e aind
os adjetivos
em sua melhor forma e-
u às vezes devia era l
argar tudo isso inven-
tar um jeito de sentir
como eu quiser.  quem
foi que inventou de f-
ormatarem o pensa
men
to
todo
em
cara
c
teres?



TEXTO LXXXIX : NO BOJO




eu comecei dizendo adeus
à         todas as coisas
que sabe lá deus quem deu

também
quem é que pode entender
um sorriso no meio do rosto

de quem espera uma vida
toda só para começar?




11.25.2013

TEXTO LXXXVIII : VIAGEM À CAMPO





tenho manias como a de procurar
palavras e descobrir saliências
encrustradas nas coisas ditas

são as pequenas jóias escondidas
sob o deserto escasso da língua
de onde os poetas tiram seu sustento

foi preciso escovar muitas palavras
imitando manoel arqueólogo pássaro
pra entender a beleza das palavras brutas

entendi que o trabalho do poeta
não é lapidar as palavras, nem buscar
extrair delas algo anterior ao seu silêncio

trata-se de imitar os gestos do fotógrafo
que chega aos poucos com seu olhar
domesticado, com a sua maciez técnica

e olhando as coisas como pela primeira
vez através de sua objetiva, ou no caso
do poeta, circundando a palavra assustada

até que tempos depois, em outro silêncio, do estúdio
ou no calor de sua própria casa
se revele
uma flor inteira abrindo na palavra semente