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cartógrafo de letras, sensações e pássaros

1.22.2018

TEXTO 164 : UM TEXTO SOBRE O GOLPE


Faço. Refaço. Completamente alheio ao tempo. Folheio. Ando. Descalço. Faço. Refaço. Procuro no chão. Sujeiras. Vestígios. Evidências. Encalços. Não me atino aos barulhos. Lá fora. Não. Lá fora não. Lembro. Deslembro. Finjo que esqueço. O esqueleto que dói. Passo. Respiro. Nisso já são mais de três. O café na mesa. A mesa no espaço. Espaço que se dilata e se contrai. Inspiro. Expiro. Existo. Nessa já são mais de três. A mesa da tarde ali. Posta. Exposta. Reposta. Resposta não. Não tenho ainda. Migalha. Espalha. Navalha. Navalha na carne? Não. Na carne as dores. Na carne os ossos. Ouço meia palavra. Palavra na carne. Palavra nua. Crua. Um cara. Um cara nu. Homem nu? Deus me livre! Lá fora o povo. Lá fora um cara nu. No olho. Cisco. Arisco. Repito. Apitos. Fanfarra. Algazarra. Põe no mudo. O mundo todo. Todo mundo. Não. Escarro. Só carros. Tiro sarro. Repito. Espio. Esguio. No break. Apita. Curto. Não curto. Circuito. De novo. Eu de novo. Eu hein! Desligo. Amigo. Pra quê? Me agito. Comigo não. Aqui não. E de novo ela. Sufoca. Transbordo. Sua nuca. Recordo. A boca. Eu não. Ponho a mesa. Suja. Sujeito ensimesmado. Cabisbaixo. Embaixo. Põe mais embaixo. Golpe baixo. Gritam o golpe. Manadas a galope. Manadas de bichos. Esguichos. Ouço guinchos. Ouço os concretos. Pára a cidade. Eu. Nasce a idade. Eu nessa idade... Na idade das trevas. Na era das bruxas. Bruxa quem tem bucho. Em nome do pai, do filho. Do bucho. Do empuxo. Em nome da estaca. Da estafa. Faca de garrafa. Coisa que não qualha. Faca em cima da mesa. A mesa posta. A mesa exposta. A mesma bosta. Panelas vazias. Quem serão nosostros? Nos outros. Quem o outro. Sou outro. O mesmo. Mais do mesmo. Medo do mesmo. A esmo. Lesma que engole. Encolhe. Oscula. Tusso. Refluxo. Resoluto. Absoluto. Soluços. Aqui? Não. Passo um café. Nessa já são mais de três. De qual mês? Ninguém vai abrir pra vocês. Vocês animais. Vocês coisa alheia. Vocês iguais. Diferente sou eu. De frente eu. Enfrento todos. Escuto. Arguto. Impoluto. Boludos! Desta vez não. Nesta casa quem manda. Sou eu. 

1.08.2018

TEXTO 163 : UM POEMA SOBRE A DISTANCIA ENTRE AS PALAVRAS




quando escrevia
queria ser gênio
a palavra muda
a gente cai em jargão

mas queria ser a palavra
a palavra muda, mudando
mutada, esquelética

tinha que ser gênio
e a palavra louco
vinha logo atrás
queria sair da sombra

e ninguém nunca
falou nada
da palavra nem
do poeta

escrevi,

que era pra
ninguém pensar
que eu era o fracasso
entre os dois

a palavra fica




1.01.2018

TEXTO 162 : O POETA NASCE MORTO




um poeta
nasce morto

por pouco
ouve o grito
do poeta rouco

não teve casa
não teve filhos
não deixou
palavra

nem ponto

eu toco
o pouco
que ficou
do poeta torto

olha

lá vai ele
pelo deserto
de peito aberto
o poeta é
louco

deixa ele
virar pó
triturar o
líquido
a semente
e ponto

deixa
que as linhas
levem do corpo
o distante
som do seu
pranto

incendiando
a pena
e a obra
pronta

deixa ir

nosso
marginal
herói

poeta bom
é poeta morto