Faço. Refaço. Completamente
alheio ao tempo. Folheio. Ando. Descalço. Faço. Refaço. Procuro no chão.
Sujeiras. Vestígios. Evidências. Encalços. Não me atino aos barulhos. Lá fora.
Não. Lá fora não. Lembro. Deslembro. Finjo que esqueço. O esqueleto que dói.
Passo. Respiro. Nisso já são mais de três. O café na mesa. A mesa no espaço.
Espaço que se dilata e se contrai. Inspiro. Expiro. Existo. Nessa já são mais
de três. A mesa da tarde ali. Posta. Exposta. Reposta. Resposta não. Não tenho
ainda. Migalha. Espalha. Navalha. Navalha na carne? Não. Na carne as dores. Na
carne os ossos. Ouço meia palavra. Palavra na carne. Palavra nua. Crua. Um
cara. Um cara nu. Homem nu? Deus me livre! Lá fora o povo. Lá fora um cara nu.
No olho. Cisco. Arisco. Repito. Apitos. Fanfarra. Algazarra. Põe no mudo. O
mundo todo. Todo mundo. Não. Escarro. Só carros. Tiro sarro. Repito. Espio.
Esguio. No break. Apita. Curto. Não
curto. Circuito. De novo. Eu de novo. Eu hein! Desligo. Amigo. Pra quê? Me
agito. Comigo não. Aqui não. E de novo ela. Sufoca. Transbordo. Sua nuca.
Recordo. A boca. Eu não. Ponho a mesa. Suja. Sujeito ensimesmado. Cabisbaixo.
Embaixo. Põe mais embaixo. Golpe baixo. Gritam o golpe. Manadas a galope.
Manadas de bichos. Esguichos. Ouço guinchos. Ouço os concretos. Pára a cidade.
Eu. Nasce a idade. Eu nessa idade... Na idade das trevas. Na era das bruxas.
Bruxa quem tem bucho. Em nome do pai, do filho. Do bucho. Do empuxo. Em nome da
estaca. Da estafa. Faca de garrafa. Coisa que não qualha. Faca em cima da mesa.
A mesa posta. A mesa exposta. A mesma bosta. Panelas vazias. Quem serão nosostros? Nos outros. Quem o outro. Sou
outro. O mesmo. Mais do mesmo. Medo do mesmo. A esmo. Lesma que engole.
Encolhe. Oscula. Tusso. Refluxo. Resoluto. Absoluto. Soluços. Aqui? Não. Passo um
café. Nessa já são mais de três. De qual mês? Ninguém vai abrir pra vocês.
Vocês animais. Vocês coisa alheia. Vocês iguais. Diferente sou eu. De frente
eu. Enfrento todos. Escuto. Arguto. Impoluto. Boludos! Desta vez não. Nesta casa quem manda. Sou eu.
1.22.2018
1.08.2018
TEXTO 163 : UM POEMA SOBRE A DISTANCIA ENTRE AS PALAVRAS
quando escrevia
queria ser gênio
a palavra muda
a gente cai em jargão
mas queria ser a palavra
a palavra muda, mudando
mutada, esquelética
tinha que ser gênio
e a palavra louco
vinha logo atrás
queria sair da sombra
e ninguém nunca
falou nada
da palavra nem
do poeta
escrevi,
que era pra
ninguém pensar
que eu era o fracasso
entre os dois
a palavra fica
1.01.2018
TEXTO 162 : O POETA NASCE MORTO
um poeta
nasce morto
por pouco
ouve o grito
do poeta rouco
não teve casa
não teve filhos
não deixou
palavra
nem ponto
eu toco
o pouco
que ficou
do poeta torto
olha
lá vai ele
pelo deserto
de peito aberto
o poeta é
louco
deixa ele
virar pó
triturar o
líquido
a semente
e ponto
deixa
que as linhas
levem do corpo
o distante
som do seu
pranto
incendiando
a pena
e a obra
pronta
deixa ir
nosso
marginal
herói
poeta bom
é poeta morto
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