12.25.2017
TEXTO 161 : RASCUNHO DE UM POEMA EM TORNO
novelo, novelo, novelinho
torvelinho, torno a vê-lo
torneirinha, torneiro, torneiro
torno, torno, forno, forma
fornalha, fornecedor, fórmula
formulinha, mula, minha mulinha,
muleta, molha, molhada, malha,
malhada, mealho, molho, molhadela
muro, murada, moroso, mouro, morada
muito prazer
12.18.2017
TEXTO 160 : UM POEMA SOBRE AQUELE ESCRITOR EXILADO
redefinir a palavra hiato
exercício de exegese
de um escritor exilado
noutros tempos
inaugura a própria terra
fazendo uso de uma linguagem
febril
paisagens febris
personagens febris
calçando no tempo também febril
um lugar de amor urgente
e o espaço que ocupa
é constantemente
refeito e dilacerado
amargamente afável
como transitar por ruas
desertas e amareladas
sem preocupar-se com o
futuro ou o presente
caminhar rumo a uma estrela
desbotada
como se nem isso importasse
somente o instante vazio
chamam seu nome
12.11.2017
TEXTO 159 : UM POEMA SOBRE AS ABSTRAÇÕES
não me tomo para abstrações
coisa fútil
já tentei
não dá para soltar
as cores de um
pássaro preso
num livro
11.29.2017
TEXTO 158 : UM POEMA EM MEIO AO ASFALTO
saudade é
a rotina da indiferença
antes de refazer
a distância entre
dois pontos
desconhecidos
a rotina da indiferença
antes de refazer
a distância entre
dois pontos
desconhecidos
esta cidade
é como
nós
e nada
é como
nós
e nada
se concretiza
TEXTO 157 : UM POEMA SOBRE O CICLO
inspirar
à imagem e o cortejo
calcular
a distância
entre a estátua e o golpe
chamar
de volta
o nome impróprio
hoje
10.23.2017
9.25.2017
TEXTO 155 : UM POEMA SOBRE AS IDADES DE UM DEUS
acho que não nos veremos
em breve
acho
descabível não pensar
nas idades de um deus
quem
a cólera vai levar
por isso mesmo
há tanto barulho
outro dia eu disse
e já disse isso várias
vezes para ser eu próprio
outro dia mesmo
tinham pequenas pessoas
vindo de uma rampa
que antes era uma escada
e assim a tarde caiu
em desespero ou desligou
também como
gostaríamos de dizer
caiu a luz
ou veio ao fim à tardinha
tudo para afastar
a violência e o tempo
9.12.2017
TEXTO 154 : POEMA CONCEBIDO SEM RESISTÊNCIA
LÁ E CÁ
caminhando sem ter viagem
a trilha imberbe adiantando os fumos
pedaços de lá e cá pra secar
se costurava com um silvo
os arrepios da paragem
tenho pressa
a poesia é um delírio da natureza
os ossos também são feitos de poeira
abismos, alumbramentos, fuligem
lá e cá, cá e lá, bastante duro
eu tenho pressa
de desgarrar não lembro
os cotovelos são para o reflexo
minha casa é um labirinto
morava perto do rio
eu a família toda
a mãe e o pai saíam cedinho
descendo o rio já não era inverno
lá e cá
cá e lá
eu tenho pressa
não sei cuidar de nada, nada
tinha uma cachorra preta
cujo nome nem se tinha
se tinha nome era Preta,
cachorra cã ou no assovio
eu tenho pressa
onde um chiado dourado
lá andavam aqueles senhores
de chapéus e a cabeça pesada
nunca soube essa palavra tédio
eu nem meu irmão
se inventava muito como os antigos
riscar o chão com pedra de sal
muda a semente dura
o que se dá adiante se deu
muito do vento são cacos
eleva-se o risco, é árvore
eu tenho pressa
não sei passar o tempo
eu canto porque tenho certeza
tudo repousa em Bm
4.03.2017
TEXTO 153 : AI O OUTONO
chet
chega pra ficar
fica mais
áereo
ficar mais
intocado
fica o nome
o som do
seu silêncio
fica blue
nem
as palavras
e a melodia
quem vai escutar
i never been in love before
pensar num cara
nada tinha
na carteira
na guerra
ou na memória
dois pinos
uma grama
um troço chamado
droga
abençoado seja
o sorriso
do menino
e a natureza
que te escolhe
sem nunca dar
razão
3.22.2017
TEXTO 152 : POEMA DE JOÃO PARA MANOEL
deus abençoe!
por aqui
em janeiro
só diluvios
benfazejam também
deus remeta!
deus dê força
coragem aqui
dos primeiros
nem urro em murro
pequenices várias
tolero; não
pequenezas
de abstrato
eu em mim; só
3.17.2017
TEXTO 151 : DESCONSTRUINDO UMA IMAGEM
toda vez que eu viro
mundo a quina dele
pede para entrar
de cima daquele muro
eu não sabia que
ia dar
em queda
eu grito eu grito
a voz não corta
quem acerta o golpe
quem me diz
essa tua luta
não vale
de nada
ninguém dá
audiencia pra
mimimi
falou então
o celibatário
gourmet designer
solilóquio afetado
falou vai
fazer tua
revolução com
pallets
ou piso clean
de cimento
queimado
deviam saber que
o teu broadcasting por
iPhone 6S, 7 ervas
é fermento de
outra revolução
faz crescer chinês
no útero de maquinas
brotas filipino de
dentro do tênis
pra
escravidão mesmo
a cegueira é
um par de Ray Ban
TEXTO 150 : UM RECADO PRA QUEM TEM
fazer o quê? se tem que
responder à altura
da reunião das castas
essa plebe que nunca
saiu de cima nem pra
dar o que falar ou dar
sem ter pra quem ver
tenho vinte e sete anos
de sangue e muita bunda
molice acumulada pra
quem não soube o que
guardar
todo esse front sempre
deixou mais vagabundo
ferido que tal______
a pista aumenta sua
velocidade de ires
sob o sol de cimento
desverdes paisagens
vangloriar-se de uma
pele que nunca foi sua
fazer a dança vibrar
pra demolir o espesso
véu
que tem feito estas noites
sinistras formas de de-
dilhar aquela velha
música...
TEXTO 149 : UM PRETEXTO PARA O DESABAFO
sinto como
a alegria que resta
sentir
somente
digo a mim
mesma
que a banda
já não é
o sorriso já
não é
os modos
também
e quem?
quem pede
adeus
dá coragem
pra seguir indo
a flor que
cabe num
remanso é
coisa pra
se chorar
muito piegas
cadê o embalo
as drogas
e
a putaria
a linha esbelta
entre os trópicos
do meu câncer
palavra
escorrida
hoje não
era pra ser
mais um
desamparo
em dormitório
só alegorias!
3.16.2017
TEXTO 148 : DO JAZZ
almost blue
pára pra pensar
a vida
toda passa como
a gilette no rosto
todo dia
quase meia noite
quando parar
de novo vai ser
pra descansar
de quê?
sei lá
inventar a vida
a única coisa
que aceita
repetição
máquina
de desmoinhos
governos
para quem a
coisa tá preta
tá ciano
pastel
marsala
black piano
pra quem o
living é easy
e a contra mão não
dá
num estranho fruto
TEXTO 147 : UM TEXTO SOBRE BOBAGENS
todas
as ondas do rádio
retornam
suavemente
enaltecendo
um amanhã
redobrado às
cobras e cabeças
eu mesmo tenho
um tio que
outro dia não
me ligou mas
pensou em
mim quando viu
passar alguma
coisa pela memória
que já esqueceu
de novo
aqui fico
prendo-me a
somar horizontes
com saudades
um fio de luz
que traz um lugar
feliz assim
é de assustar
pra não falar na outra
pelejo para dar
asas a uma criatura
às pressas
para colorir ou
renovar as chuvas
que vêm - percorrendo -
essa distância
ridícula
além mar!
além sol!
desgovernanças!
porra
não acredito
que já estamos
ainda discutindo
como renomear
desgraças
1.11.2017
TEXTO 146 : UM TRECHO DE SOL
uma imensidão
as pessoas tem nomes simples
coisas coroadas sobre a mesa
o que faz falta
perto do silêncio
é o recôncavo do lar
a mal dizida crise
que leva aos cantos
gente
como caminhão
de tijolo
tudo perto do mar é bom
o que o sertão
guarda não traz
na memória
caminhos des'povoados
à beira do sol
acenando para abrir
o fim do caminho
a conversa ligeira
TEXTO 145 : A POESIA
a poesia
ela é suja
a poesia não
tem versos
a poesia é
a fala dizimada
o objeto
esquartejado
o inútil discurso
contra a parede
o tijolo sem
reboco
seiva que
rola sobre
o tronco depois
do golpe
da lâmina cega
a poesia
é o caos que
a gente lambe
ferida na pele
latejando
cor que não
coagula
dor que não
se inventa
a poesia não
é rosa, vermelha
ou branca
nem os teus lírios
não vai com chá
nem
presente de grego
é
relógio parado
homem-bomba
casa em quarentena
gente na rua
sem saber o
que aconteceu
poesia é o tiro
que se ouve na
madrugada
a certeza da
morte
querer não ter
visto o que não
era para ver
poesia para quem
não sabe o que é
rima nem riso
não distingue
o dia da noite
poesia é anedota
para generais ressaqueados
dúvida e dívida
revolucionários vendidos
poesia para quem
tira o nome da obra
quem doa de si o que
não tem e
nem nunca terá
poesia é resto
para quem tem tudo
os olhos da cara
vertigem das asas
falta de ar
cume do morro
areia da praia
arrabalde do sistema
carro furtado
cigarro pela metade
poesia para um
ou para dois
melodia desgastada
trovoada na carne
palavra tesa
endurecida
esquecida em monumento
semeada num
canto do mundo
mudo
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