9.28.2013
TEXTO LXXXVII : CINCO ANOS
Quando cheguei
tinha uma fotografia nas mãos
e o coração aberto
Hoje tenho a casa cheia
e uma sensação
de que tudo vai pelos ares
TEXTO LXXXVI : AOS ESCRITORES E POETAS
Não me impressionam
os poetas e escritores
que souberam escrever
escrever rescrever
e escrever
impressiona-me quando
conseguem ao fim
das coisas escritas
nada dizer.
9.26.2013
TEXTO LXXXV : UM RETRATO
eu também olho uma pintura
alcanço com meu olhar triste
o seu olhar tedioso, morto
como se fôssemos feitos de
areia
uma areia fina, guardada há
muito tempo, não como lembrança
como o castigo de dois amantes
separados.
TEXTO LXXXIV : POEMA PARA A DISTANCIA ENTRE NÓS
não sei por quê
volto à banheira
já com o corpo limpo
me atiro de joelhos
esperando seu corpo
me inundar
9.22.2013
TEXTO LXXXIII : O POETA
O poeta fica imóvel
os seus dedos tremem
(o que será que eles escrevem?)
O poeta abre os olhos
respira fundo, e mexe os lábios
sua garganta corroída pelo texto
Fecha os olhos novamente
e recita seu poema sem pausas
conhece seus perigos
O próprio poeta alerta
"Não me interprete
não sofra meu fingimento!"
O poeta relê seu poema
três vezes seguidas
em cada uma uma coloração
Pesaroso, o poeta experimenta
o luto de enterrar suas palavras
relembra as palavras que não usou
O poeta assiste ao funeral dos
sentimentos diante dos olhos
extrai dos versos, as ultimas palavras
como se o poema se desfigurasse
enquanto congela os lábios e se despede
de sua criação,
então fecha o livro e caminha
TEXTO LXXXII : EU FUJO
São Paulo, uhmmm, ahh
quando eu volto é pra te infernizar
São Paulo, tchurururu
São Paulo eu não queria te morar
São Paulo, não vai dar casamento
sempre que eu dou chilique
você insiste em desabar
São Paulo, agora me escute
nas ondas do radio perdidas
Eu te escrevi canção de amor
ficou com cara de despedida
9.17.2013
TEXTO LXXXI : UM DESENCONTRO ESPERADO
há tempos eu volto à sua rua durante minhas caminhadas
e espreito o calor da vizinhança, observando
o andar atrapalhado dos seus moradores antigos
o jeito como se cumprimentam e parecem falar noutra língua.
passo pela sua porta, será que está em casa?
a esta hora deve estar distraída com o almoço
até sinto o cheiro das cebolas e do alho fritando, um cheiro
que sai de todas as casas perto do meio dia, mas não da sua.
será que você está cansada de fazer as mesmas coisas?
ou se acostumou com a ideia de não sentir nada novo.
às vezes pensa em correr sem destino, subir em qualquer ônibus sem volta?
ou é tão romântica a ponto de se imaginar em um barco, sozinha?
passo os dedos entre as grades da sua casa, descascadas e corroídas pelo mau tempo
minhas unhas parecem até que vão cair, mas você se importa?
tem um dia inteiro para ir ao trabalho, encontrar-se com seu namorado
vai te levar ao cinema hoje que é quarta-feira porque é mais barato?
essa multidão passa por mim e me olha como se eu nem existisse
o que será que vêem, será que têm pressa, será que o que têm é só fome?
quando eu tomo coragem de ir embora, percebo que você é que esteve me observando
e o que será que viu? viu que roubei suas cartas? viu que balbuciei algo para sua vizinha?
agora que sei, decido escrever algo sobre a sua conta de luz, o que me vem à mente
qual a minha desculpa para escrever e inventar essas perdas de tempo?
talvez o tempo, para mim, seja uma insuportável penitência e para você, dolorosamente decisivo
e o que nos aproxima talvez seja a incompreensão da velocidade com que ele nos afasta.
9.09.2013
TEXTO LXXX : UM ROMANCE POÊMICO
e eu te seguro nas mãos
as tuas mãos de papel escorrido
você desliza nas entrelinhas
do meu coração picado
autografando todos os acentos
do meu corpo. no meu peito
abre-se um paragrafo inteiro
seu nome dançando em corrente sanguinea
bula de remédio você é mais complicada
que caligrafia de médico decifrar os garranchos
da tua infância em caderninho moleskine
marcador de livro para hora perdida entre nós
perco a respiração você me
anima com sete estrofes, sete letras
diz que nunca vai deixar de soletrar
A-M-O-R-A-P-R-I-M-E-I-R-A-L-E-I-T-U-R-A
seus olhos me desnudam com pena
me borram, me rasgam no tec tec da máquina
dedica um versinho de cantiga de roda recita vai
senão fico triste, morro, toda a tristeza do mundo
escondido em poema adolescente de fichário hello kitty.
TEXTO LXXIX : UM POEMA FEMININO
COISAS DE MULHER
o estomago vazio
a pele à flor da pele
os cabelos colados ao rosto
a sensualidade transborda
as flores na sua vida
um cigarro à espera
seu olhar de ressaca
tem mais anos do que parece.
TEXTO LXXVIII : UMA LEMBRANÇA QUASE FALSA
você invade minha poesia
trança minhas palavras
diz que é visita mas é mentira
você procura as palavras no meu colo
e eu. volta e meia eu escondo as mãos
depois você senta e fica só me olhando
com os pés descalços (eu nunca toquei os seus pés)
eu sinto o seu cheiro, cheiro de especiarias
e flores que nunca conheci o nome
é assim que eu me lembro de você
mesmo que tudo em você seja invenção
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