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cartógrafo de letras, sensações e pássaros

9.29.2015

TEXTO 120 : POEMA PARA A VOLTA





caminho de seda macio
de manhã tem o rio
à noite tem um chiado

perder-se olhando as estrelas
procurar já é existir
em seu estado bruto

o absoluto sentido da existencia
não é comparar-se ao outro
é ser e estar, às vezes viajar

o que é que faz falta
o abraço do mar?
as manchas na pele?

trair-se pela escuridão na lembrança
corromper-se pela ausência
lamentar-se no colo da noite

quando a manhã chegar
embriagar-se dos pássaros
pensar que era tudo sonho




9.11.2015

TEXTO 119 : UM POEMA HIDROGRÁFICO





meu desejo é ser rio
populosamente passageiro
caudalosamente fino
cascateando solitário

anonimamente aguacento
revirando ensimesmado
flutuantemente profundo
gentilmente traiçoeiro

ilustrissimamente anônimo
enraizadamente livre
injustificadamente bruto
familiar e resplandecente

desejo de ser tácito
meticulosamente cheio
enormemente inútil
e servilmente vazio

desejo de ser perpétuo
de ser retorno
e de ser profícuo

eternamente faminto
desastrosamente generoso
irreparavelmente indomável
simples e inocente paisagem

um grandalhão de dedos sensíveis
um coração que alaga fácil
tímido aventureiro sem limites
leviano sonhador que consome seus horizontes.