1.19.2016
TEXTO 126 : POEMA PRA ÁGUA
Areal com boca de rio
Mandei dizer que a chuva
não se traga com dentes
de pedra
Ave que vem pousar
canta no gargalo
limpando o dia da
prosa em matagal cheio
Alto do vale crista de
serra todo o ar que sobe
pra inflar as nuvens
tem que amar o mar
Água que desce
lisa escovando a beirada
a cheia toda é que tem sede
1.05.2016
TEXTO 125 : OUTRO POEMA ENTRELAÇADO*
Em silêncio náufrago
e na boca tântrica
há uma prece quântica
de fazer morrer
há um quadro tétrico
de uma vida métrica
no tijolo exposto
onde estanca a dúvida
onde perco o sono
onde não me calo
onde dão-me o que comer
No quarto escuro
de paredes mornas
vendo as rachaduras
que o tempo e a dúvida
fizeram brotar
quero reencontrar os
homens em suas cartas de amor
rasgar suas dúvidas
e dividir suas danças
quero reencontrar
suas vozes e
afagar seus túmulos
recordar seus nomes
Fechar seus olhos,
quando o dia tarda e o sono ainda não vem
Embalar os homens
de cara feia,
e pele dura
em cantiga mansa
de boi dormir
Quero percorrer seus mapas,
ocultos no jargão próprio das veias
vislumbrar suas estradas
de terra e de ódio
Quero dizer-lhes palavras que
não possuo
Quero amargar-lhes a boca
constranger-lhes o peito
numa tarde ensolarada de domingo
Quero amaciar seus corações
na companhia etérea das almas
Quero acompanhar até o fim
sua trilha de poeira e água
sua jornada de nada e esquecimento
Quero ver ir
embora
o último resquício,
a finda
luz,
a derradeira brincadeira
dos olhos
que espiam o mundo
e dizem adeus
sem mais nem menos.
* com Pedro Marangoni
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