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cartógrafo de letras, sensações e pássaros

5.28.2013

TEXTO LXXIV : AS ILHAS




(da ilha não sai.
o corpo transcende)

da ilha deserta
qual se diz nas histórias

a ilha que emerge dos
sulcos do pensamento
feito miragem

os filósofos do rei
pagos para apagar ilhas
                       e mapas
fazem surgir as ilhas nos homens

pouco a pouco
ilhas movidas pelos sonhos
das mais absurdas distancias
unem-se, mas nunca por terra

pequenos pedaços da matéria
desconhecida e amontoada
para fazer chão em si mesmo

as maquinas de achar ilhas não
funcionam em solo, tem que ir atrás
de mares da certeza
(e a única certeza é o perigo dos mares e
o absurdo de se conhecer as ilhas desconhecidas)

os pequenos vestígios de ilhas
são diariamente apagados
as viagens do tempo
quem inventou foram os homens

estas pequenas ilhas
cercadas de desejo
e recobertas da impossibilidade
de se habitar o sem nome

despontam nos mais variados lugares
inalcançáveis às mãos ou aos olhos
às máquinas ou os navios
as ilhas emergem e logo desaparecem
nos mais frágeis encontros

5.12.2013

TEXTO LXXIII : UMA HOMENAGEM



MÃE

na imagem santa, o véu 
que esconde o feminino
adormece uma força
de letra maiúscula

carrega entre as pernas
o pecado por dois
couraça que não cinde
coração que abriga o mundo

querem dar-lhe um dia
comprado com flores


TEXTO LXXII : UMA IMAGEM RECORTADA





eu visito vidas
desprendido de lembranças

fragmentos repentinos
dia a dia
como a visita de um sol

deixo invadidas as almas quietas



5.06.2013

TEXTO LXXI : SETE FIGURAS


I

treze rostos perseguem
um ponto fixo no horizonte
os corpos colados
vontades distantes

II

liberdade
acompanha a rachadura do barco
a madeira contra a água
a corda quase arrebentando

III

tumultada noite
em que a escuridão estrangula
a todo momento
meu olhar perfura o silêncio

IV

um cristo de joelhos
limpa as feridas com os dedos sujos
suas lágrimas tocam a terra bege
milhões ainda vão passar fome

V

desenha o contorno de montanhas sem o cume
a terra sagrada é povoada de fantasmas
três mulheres, entre elas uma grávida
o caminho é cheio de pequenas armadilhas

VI

a matilha desce pela colina congelada
mais adiante a ordem de parada
os cães agitam-se com os vultos
um deles carrega uma lâmina afiada

VII

a vertigem lhe tira do caminho
seus dois filhos foram executados em uma guerra
adormece sentada, ameaçada pela incerteza da noite
seu olhar guarda a história de um povo

TEXTO LXIX E LXX: DOIS POEMAS DE JANTAR



BEIJO


palavra derramada
entre dois pares de olhos negros 
corre o risco 
dos desencontros.




SILÊNCIO


ao encontro do vidro
teu silêncio
me quebra em cacos
como sinfonia.