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cartógrafo de letras, sensações e pássaros

2.18.2014

TEXTO XCVIII : NOSSOS DIÁLOGOS





percebe agora com a crueldade da distância

que não conversamos
apenas lançamos ao mar
(ou a algum outro velho conhecido)
nossas cartas e nossos descontentamentos

e quando recebo notícias suas
vou correndo para o dicionário
pois tentar entender sua língua
(e por mais que falemos o mesmo idioma)

é como um desafio incansável
de tropeçar nos próprios passos
como um erro ao qual nunca me acostumo
ou como um enjoo marítimo

por isso penso que estamos a dar voltas de barco
e a terra que vislumbramos, esse território
que jamais pisaremos, das coisas estáveis e tranquilas
(e das palmeiras e sabiás), nunca chega




TEXTO XCVII : NÃO





não
para quê a pressa de ir
sem sequer ter chegado a nada?

não vê que o tempo é
traiçoeiro e anda a passos curtos
como se a madrugada toda fosse feitiço?

não
não corra atrás de preocupações, deixar adivinhar
o pecado é muito mais atrevimento do que consumá-lo

não
pode até ser que as palavras tenham desejos