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cartógrafo de letras, sensações e pássaros

10.25.2009

TEXTO X e XI : DOIS POEMAS

CAPUT

Da casa, as cinzas
pousam pouco e misteriosas

Das cadeiras, ruídos
são instáveis quase pó

Junta a procura, protesto
Carta, copo, cara
Fim de navalha, por-do-sol

Tanto tempo, tanto falho
Sozinho no quarto, o canto
infeliz

Guianas, lâmpadas, azulejos
Intrometo;
alumen, sanguis, pulvis




HOJE É A NOITE DOS MASCARADOS

Hoje é a noite dos mascarados
Visto-me bem distante e sólido
Minha máscara de gala forjada
Forçando-me a sorrir de raspão

Sou o príncipe dos olhos apressados
Com cautela me desespero, paro:
estendo-lhe a mão
Hoje é a noite dos desamparados
Cruzo os dedos a me duvidar

Onde foi parar meu juízo?
Quantos pecados posso lhe servir?
Hoje é a noite dos enjaulados
Com garfo ou remorso, a máscara vai cair

Trouxe um fardo pesado, corpo cansado
Outra vez deixo cair uma ofensa
Os bons modos ficam junto às chaves
Cedo ou tarde ainda me reconheceria

Sou eu quem chacoalha as mãos de medo
Fecho os olhos na vermelhidão
Atravesso da língua aos dedos
Deslizo-te a mão de uma morte

Vou revisar alguns sintomas
Enfeitar meu sonho crespo
Embriagar-me de chuva mista
Hoje é a noite dos anestesiados
A sua máscara pesada, o seu teto de vidro
E eu meio tingido

Ricardo Rother

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