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cartógrafo de letras, sensações e pássaros

6.06.2011

TEXTO XXXI : RESILIÊNCIA

Devem existir coisas piores do que eu pelo mundo, mas este não é o caso. Mesmo se fosse, sempre haverá a fome, o ódio e o orgulho. Felizmente, para mim, há a redenção, há um deus em tudo o que pode ser bom, mas hesita. Para a minha felicidade ou desgraça, há um abrigo e desta vida não dobro tão cedo. Mas o caso é que esta semana me concederam uma visita conjugal. E pela primeira vez em meses, não serei só eu e minha cabeça pesada. Então, tomar banho gelado me parece até um minuto no céu e se meus cabelos embranqueceram ou caíram, tudo bem. Tudo bem, porque não me desmanchei e não desmancharei, não me pintei e não cederei. É uma questão de ser maior, de desviar o pensamento e rebater a luz do sol em minhas próprias chamas. E mais tarde, quando o sol se for, quando todo o barulho se acomodar e ninguém mais quiser um pedaço de mim, posso dançar em volta de uma fogueira que não arde nem morna, pintado com os restos de meus inimigos e a noite cresce sem apego, desmanchando de pavor para não parar. Eu posso; não, eu vou! Todo o concreto e metal se envergarão pois uma palavra sequer sairá de mim em vão. Meus olhos serão mais firmes que qualquer quarenta e cinco milímetros, entende? Os chineses já sabiam muito antes da pólvora, que o corpo aguenta mais do que a muralha. Não, eu não sou o muro nem a pedra, eu sou o vento que desvia com elegância dela e vai para onde não se vê, eu sou o céu, o reflexo da atmosfera e das águas. E se me perguntarem por que a luz que corre em mim é branca, não responderei em palavras, nem em cores. Eu não fui feito para o encontro, mas para o entorno.

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