11.25.2013
TEXTO LXXXVIII : VIAGEM À CAMPO
tenho manias como a de procurar
palavras e descobrir saliências
encrustradas nas coisas ditas
são as pequenas jóias escondidas
sob o deserto escasso da língua
de onde os poetas tiram seu sustento
foi preciso escovar muitas palavras
imitando manoel arqueólogo pássaro
pra entender a beleza das palavras brutas
entendi que o trabalho do poeta
não é lapidar as palavras, nem buscar
extrair delas algo anterior ao seu silêncio
trata-se de imitar os gestos do fotógrafo
que chega aos poucos com seu olhar
domesticado, com a sua maciez técnica
e olhando as coisas como pela primeira
vez através de sua objetiva, ou no caso
do poeta, circundando a palavra assustada
até que tempos depois, em outro silêncio, do estúdio
ou no calor de sua própria casa
se revele
uma flor inteira abrindo na palavra semente
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