Minha foto
cartógrafo de letras, sensações e pássaros

5.12.2015

TEXTO 107 : UM POEMA DE PEDRA





insisto em desgastar
a pedra riscando
no chão
uma pedra contra a outra

numa das pontas vou
produzir um instrumento
pontiagudo capaz
de furar ou de cortar

na outra pedra vou
deixar funda marca
a pedra gasta é um
buraco ou uma memória

nenhuma outra ação
natural se compara a
esta fenda produzida
com minhas próprias mãos

mãos de trabalhador
que vão descascar e
produzir bolhas
em resposta ao desgaste

as mãos de leite
se regeneram em mãos
de amor, ou mãos
prontas para o combate

com minha pedra afiada
preparo um golpe certeiro
para tirar a vida
de outra criatura

a pedra tinge de sangue
e o sangue lava a fome
ou a vingança dos
meus ancestrais




Nenhum comentário:

Postar um comentário