LÁ E CÁ
caminhando sem ter viagem
a trilha imberbe adiantando os fumos
pedaços de lá e cá pra secar
se costurava com um silvo
os arrepios da paragem
tenho pressa
a poesia é um delírio da natureza
os ossos também são feitos de poeira
abismos, alumbramentos, fuligem
lá e cá, cá e lá, bastante duro
eu tenho pressa
de desgarrar não lembro
os cotovelos são para o reflexo
minha casa é um labirinto
morava perto do rio
eu a família toda
a mãe e o pai saíam cedinho
descendo o rio já não era inverno
lá e cá
cá e lá
eu tenho pressa
não sei cuidar de nada, nada
tinha uma cachorra preta
cujo nome nem se tinha
se tinha nome era Preta,
cachorra cã ou no assovio
eu tenho pressa
onde um chiado dourado
lá andavam aqueles senhores
de chapéus e a cabeça pesada
nunca soube essa palavra tédio
eu nem meu irmão
se inventava muito como os antigos
riscar o chão com pedra de sal
muda a semente dura
o que se dá adiante se deu
muito do vento são cacos
eleva-se o risco, é árvore
eu tenho pressa
não sei passar o tempo
eu canto porque tenho certeza
tudo repousa em Bm
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