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cartógrafo de letras, sensações e pássaros

2.16.2016

TEXTO 128 : UM POEMA DO SERTÃO


"Vou lhe falar. 
Lhe falo do sertão. 
Do que não sei. 
Um grande sertão! 
Não sei. 
Ninguém ainda não sabe."
(Guimarães Rosa)  


(no toque da viola
o coro acompanha
com a mão no peito)

Foi lá onde a água deu
foi lá que eu fui me dar
Da caatinga de meu deus
olhe lá quem vem cantar!

A familia já partiu
e pra lá nao vou voltar
Um jagunço pede a deus
vem amor me castigar!

Nessa terra que eu cresci
hoje eu me pus a rezar
Terra seca que eu comi
pra morte não me enterrar

Tudo o que fiz nessa vida
foi fazer meu nome honrar
Quando eu for só peço a deus
a minha morte embalar

Deu-me força, deu-me a vida
deu-me os pés pra eu andar
Meu cavalo e minha garruncha
E mulher pra me casar

Hoje eu peço distante
pro dia de ontem voltar
Caso que eu fiz nessa vida
tudo sem remediar

Essa vida ai sem conserto
não tem cura nem tem nome
Dela eu tiro um leite escuro
que é pra não morrer de fome

Quero aqui lhe registrar
tudo o que eu fui ensinado
Foi bem longe do caderno
fui ver o mundo escolado

Nas artes de matar outro
isso que mais tem no Norte
Cada qual em sua carreira
cada um com sua sorte

Deus me livre de dar morte
a quem me deu terra arada
Pois nem ela nem foi dada
eu que peguei de braço forte

Me lembrou outra palavra
por aqui "ó pátria amada"
Aqui longe já da vista
Jaz aqui terra adorada



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