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cartógrafo de letras, sensações e pássaros

12.20.2010

TEXTO XXII : UM DESAFIO AMOROSO

Não sei como saí da sua casa.
Correndo, carregado pelos paramédicos, de olhos fechados, talvez. Talvez os amores saibam sempre por último e a ironia disso tudo, é que eu ainda não tinha te perdido. Mas você jogou essa bomba nos meus braços, me mandou para três galáxias diferentes e meu pedido desmoronou com meus joelhos. Meu único pedido, meu único desejo, minha única desculpa para não desbotar foi engolida pelo seu sorriso, pelo meu silêncio. Quis te evitar, quis te tapar com os olhos fechados, e você, toda iluminada e atordoada me disse que ainda seríamos bons amigos, que isto não era motivo para perder as estribeiras, para me atirar da janela e você mal sabia o quanto quis que você não morasse no térreo. Ah, quis atravessar a cabeça pela janela de vidro e você segurou minha mão. Senti-me áspero, sujo, impregnado de ódio, e quis tirá-la, por não me controlar, mas logo em seguida vieram seus lábios. Sua pele lisa, macia, seu corpo cheiroso, sua calma e seus ombros suaves, quase leitosos. Escaparam todas as lágrimas, tudo aquilo que me afogava tão rapidamente, mas não sei, não sei como saí da sua casa, da sua vida, do seu filho, do seu coração. Sei que às vezes te vejo de longe, arranco as sobrancelhas, o bigode e olho para o chão e você nem me reconhece. Sei que agora está solteira, estudada e procurando um marido. Sei que jamais me permitirei te querer de novo e minha pele é bem mais queimada agora do que há dez anos, fiz plásticas no rosto e estou mais magro. Você mora no terceiro andar, eu no décimo quinto. Não sabe o quanto eu quis que fosse o térreo.

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