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cartógrafo de letras, sensações e pássaros

2.11.2011

TEXTO XXVII : DOS BURACOS TAPADOS

Eu não sei como é estar em outro lugar, não imagino uma forma de atravessar fronteiras maiores que a própria imaginação. Mas se posso dizer, a vontade de querer cruzar ou transpor essa corrente de violência é maior que tudo o que já passei. Entender os limites entre a vida ou a morte, talvez tudo isso seja mais bonito na ficção.
O silêncio é o pior sintoma da frustração.
Em algum lugar pior que esse, espero que outras pessoas dancem em volta de uma fogueira ou então comemorem nascimentos e aniversários.
Essas paredes ficam cada vez mais estreitas, mas isto não é um caixão. Isto não é uma carta de redenção ou despedida. É um suplício a mim mesmo e ao meu e também seu vício de se manter vivo. Não faz diferença, agora não. Guerra e paz são duas ideias, são duas frequências e eu não me misturo com nenhuma delas. Sigo um manual que eu mesmo inventei e que provavelmente não faz diferença alguma para a sociedade. Já semeei árvores, já adotei sorrisos e chamei de filhos, escrevi meu nome em um formulário que foi recusado, rasgado, reciclado. No fim, a terra se renova, os insetos se reproduzem e um ligeiro pássaro dá de alimento uma minhoca que nunca soube o que quis dizer o verbo amar. É da sintonia que eu falo, que tudo está em seu lugar, em sua hora. Mas eu estou aqui, lutando contra uma sombra maior que eu. Procurando separar cada coisa e dar nome a cada apunhalada. Se eu me calar, então tudo vai embora e a chuva se aninha.

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